A Menina que Não Sabia o que era Sorrir e Muito Menos Rir

Há alguns anos atrás, morou em Londres, uma menininha que não tinha pai, nem mãe, que não tinha casa, que não tinha nome. Só tinha uma coisa, a única coisa que sabia que era dela: seu único, e vivo, avô.  Ele era um homem de cerca de sessenta anos, que já fora muito rico, trabalhava como vendedor, mudava-se constantemente; (no momento estava em Londres). Em uma madrugada, um incêndio tomou conta de tudo que possuía, levara sua mulher, seu único filho, sua nora e o netinho não nascido; só não levou uma coisa: sua única neta, a única criança que não sabia o que era sorrir e muito menos rir. Pudera, nunca a menina fizera algo semelhante a isso!  A menininha tinha a pele morena, por causa de sua mãe, os cabelos louros encaracolados, vieram da avó paterna, os olhinhos cor de mel, vieram do avô materno (o qual nunca conheceu).  O avô tinha uma estatura mediana, tinha os cabelos grisalhos e tinha os braços musculosos; de tanto erguer isso ou aquilo.    Seu nome era Anderson e a criança, com oito ou nove anos, não tinha nome!  -Não há nada que chegue aos pés de minha neta!- dizia o velho Anderson sempre que perguntavam o nome da menina. Na verdade, assim como a menina, ele o esquecera devido ao pouco uso deste; só ouvira-o até a netinha completar três anos, quando os pais morreram e nunca mais se ouviu aquele nominho perdido.  Ela nascera em tempos difíceis, nunca tendo ouvido um único som de riso; até aquele dia não sabia o que era o simples ato de sorrir.  Naquele dia enquanto esperava pelo avô, sentada no chão da praça, viu um menino, mais ou menos com a sua idade, com duas figuras: uma mulher e um homem. De repente, uma dor aguda surgiu, dentro de seu duro coração.  “Que saudade dessas duas figuras” – ela pensou.  Como um raio, ela ouviu: “Brighet!”  Seria aquele seu nome? Ela estava confusa. Elevou suas mãos até a cabeça para esconder a lágrimas, de dor e saudade, que estavam prestes a explodir quando sentiu algo duro e frio encostar-se em sua pele.  A menina, com lágrimas nos olhos, olhou para a pequena corrente de metal, com um medalhão no centro, com um pouco de medo; afinal quem poderia ter lhe dado aquele objeto, gasto mas muito bonito?      Ela observou tudo em volta, nada viu; apesar de ter tido a impressão de alguém gritando seu nome. Assim que colocou o cordão sentiu um sentimento novo, sentiu algo inesperado, sentiu algo bom. No mesmo instante ela começou a rir, rir e rir!  Parou de súbito. Tinha certeza de ter ouvido alguém gritar:  “Mamãe, seu cordão!”- olhou em volta, nada viu além de um senhor acenando calmamente para ela; alguém a chamando pelo seu nome:  -Brighet! Venha com o vovô! Vamos dar uma volta!- com um salto, ergueu-se e foi-se ao encontro dele.  À distância Brighet olhou para trás, teve a impressão de reconhecer a figura do pai e da mãe; com uma criança no meio deles.  “Deve ser meu irmãozinho...”-pensou a menininha, com um sorriso misterioso nos lábios.  As figuras acenaram, vagarosamente, para ela e; aos poucos; sumiram. Ela retribuiu o aceno. O velho Anderson, interrompendo a caminhada, disse:   - Para quem está acenando, minha neta?  - Só para uns amigos... Mas eles já forma embora...  - Não diga isso, querida, seus amigos sempre vão estar por perto quando precisar.  -Vovô - disse a menina, retomando a caminhada- Como sabia meu nome?  - Sabe, Brighet... É uma pergunta engraçada... Estava caminhando para encontrá-la quando... BUM! Como uma bomba. Lembrei o seu nome.  - Entendi...- respondeu a menina, um tanto confusa.  - Só mais uma coisa, netinha...- começou o avô – Do que você estava rindo, naquela hora, quando cheguei?  - Ora, - começou a menina fazendo ares de superioridade – Da vida, vovô, não está uma bela tarde?  Ele sorriu. Pegou a mão de Brighet, e foram; de mãos dadas; até chegarem a sua provisória casa.  À distância, um casal, com um menininho entre os dois, observava o avô e a neta, sumirem dentro da casinha.  - Será que eles vão ficar bem? – falou a mulher.  - Mas é claro! Sempre vamos estar aqui, para protegê-los!- respondeu o pai.  Eles atravessaram as paredes da casa, como se nem existissem, caminharam tranqüilamente até o quarto, onde a menina estava, e, vendo-a dormindo, entraram, um por um, dentro do medalhão, que ela ainda usava.  Imediatamente a menina sorriu; sentia que sua família estava ali a protegendo de todo mal.Fim